Como Deus maneja as ‘coincidências’ do curso de vida de cada pessoa! Como o pai de minha mãe, Francisco, veio a conhecer sua mãe, Eunice, acarretando a união que se deu em 1926? Bem! Nenhum dos dois era natural da localidade de Alto Jequitibá: Eunice era nascida no distrito de São José do Ribeirão, que já fora pertencente a Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro, mas passou depois a pertencer ao município de Bom Jardim, quando da emancipação deste. A data de nascimento dela foi 24 de julho de 1906.
Veio para Alto Jequitibá na infância, com a migração dos pais, Ernesto, de ascendência alemã, e Alice, de ascendência teuto-suíça. Ernesto saiu de São José do Ribeirão, juntamente com outros migrantes, para estabelecer-se na terra ao pé da Serra do Caparaó; é onde se encontra o Pico da Bandeira, e onde já se haviam fixado outros descendentes dos imigrantes predominantemente alemães e suíços. Até se casar, aos 19 anos, Eunice auxiliava seu pai, como filha mais velha, no sítio de propriedade dele; ademais, chegou a ajudar a “tomar conta” dos dois irmãos mais novos, frutos do primeiro casamento do seu pai, porquanto sua mãe, Alice, falecera 4 anos antes. A história dele, da primeira e, depois, da segunda esposa, conto mais adiante…
O pai de minha mãe, Francisco, nasceu no município de Manhuaçu (Manhuassu, naquela época) em 10 de outubro de 1903, onde foi criado até por volta de 1918. Nos anos de 1903 e 1904, o pai dele – José Pires Horta Barbosa – era agrimensor do estado de Minas Gerais, trabalhando no distrito sediado em Manhuaçu. Por conta de questões ortográficas de época, bem como de preferência de autoridades, esse “Barbosa” foi, algumas vezes, grafado “Barboza”; mas, deixemos isto para depois. Meu avô Francisco perdeu o pai dele ainda muito novo – com apenas um ano de idade, ou seja, em fins de 1904. Por aquele tempo, tinha uma única irmã – Diva – também nascida em Manhuaçu, em 26 de dezembro de 1904; ela viveu tão somente até a idade de 18 anos, como relatarei noutro ‘capítulo’.
Por volta de 1919, sob a influência do tio dele – o pastor Anníbal José dos Santos Nora (1877-1971), meu avô foi prosseguir seus estudos no município de Valença, no estado do Rio, “aos pés” do pastor e educador presbiteriano Constâncio Homero Omegna (1877-1927); a escola era o Atheneu Valenciano. Àquela época, o Atheneu já tinha uma fama que ultrapassava as fronteiras do estado do Rio, desde que fundado pelo seu patrono, o cristão valdense de origem italiana, o Comendador Antônio Jannuzzi (1855-1949). No começo do século, o já renomado comendador se aliou ao Rev. Omegna (também de origem italiana) para o empreendimento do educandário, que alcançou rápido progresso.
Então, por “coincidência”, uma vez que seu tio Anníbal precisava compor a equipe pioneira de professores do ginásio que estava surgindo em Alto Jequitibá, Francisco se fixou naquele lugar, ao voltar de Valença no início de 1922. Ali, tornou-se membro daquela equipe pioneira de professores do “Gymnasio Evangélico”, sucessor da escola primária criada em 1909. Para a mesma cidade veio também sua mãe, Castorina Nora Horta Barbosa, irmã do pastor e educador da cidade; Castorina havia ficado viúva em Manhuaçu aos 19 anos de idade – menos de dois anos de casada, apenas.
Por “coincidência”, era também naquela cidade que residia Ernesto Heckert, pai de Eunice. Então, foi a “coincidência” de residirem na mesma cidade que levou Francisco e Eunice a se conheceram. Conhecendo-se, o resultado foi o casamento, realizado em 04 de fevereiro de 1926, cujo celebrante foi o próprio tio. Ela, que era Eunice Werner Heckert enquanto solteira, se tornou Eunice Heckert Barbosa. Em Alto Jequitibá nasceram cinco dos seis filhos: Divar (1926-2014), Cecy (1928-…), Ione (1930-1999), Dalva (1931-…) e Elisa (1934-2007).
A permanência em Alto Jequitibá perdurou até 1941. Naquele ano, Governador Valadares era uma cidade na ‘primeira infância’ – apenas três anos; foi para essa cidade do Vale do Rio Doce que meu avô Francisco se mudou com a família. Ali exerceu várias atividades – entre elas, a de professor do Colégio Presbiteriano, fundado em 1944. No mesmo colégio, foi diretor por três anos (1958 a 1960); foi, também, secretário municipal de educação, na década de Sessenta. Em Valadares, ano seguinte ao da chegada, nasceu ao casal a filha mais nova, Ligia.
Entretanto, para minha avó Eunice, a vida na nova cidade teve curta duração: na noite do dia 18 de junho de 1948, foi acometida de sério AVC, com o que faleceu, pouco mais de um mês antes de completar 42 de idade. Recordando o que dela minha mãe dizia, deixou uma lembrança mista: a doçura e o cuidado materno que deixou saudades, embalados nas marcas das dores e sofrimentos de uma vida que, por conta de diversas circunstâncias alheias ao escopo destes escritos, se tornou anelante pelo porvir celeste. Meu avô ficou com o filho mais velho, Divar, que tinha 21, e as cinco filhas; minha mãe havia acabado de completar 20 anos de idade, quando perdeu sua mãe. E quanto à minha avó? Bem, posso dizer que, pela fé no Salvador e Redentor, deixou esta vida em que as recompensas são efêmeras e os deleites são fugazes para ouvir do Filho de Deus exaltado à destra do Pai: “Bem está serva boa e fiel… Entra no gozo do teu Senhor!” (Mateus 25.21,23, ARA). Trata-se da investidura da glória dos remidos do Senhor, coisa que o olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais veio ao coração do homem, o que Deus tem preparado para aqueles que O amam (I Coríntios 2.9, Bíblia Católica do Padre Antônio de Figueiredo)!
Meu avô voltou a casar-se; Sebastiana era o nome de sua segunda esposa, num casamento que durou, mas não muito. Na década de Sessenta, meu avô ainda desempenhou atividades diversas do ofício de educador: foi pequeno produtor numa chácara no distrito de Era Nova. Ali, os netos gostávamos muito de acompanhá-lo nas lides: a chácara de hortaliças, o pomar, a granja de poedeiras, a criação de coelhos… Com ele, tive na prática minha primeira experiência em criar frangos e coelhos. No entanto, a ‘velha’ vocação educacional o convocaria de novo: por cerca de um ano, foi diretor da escola estadual no município de Itanhomi, MG, que fica entre Governador Valadares e Caratinga. Ao fim daquela década, os rins começaram a dar sinais ‘prematuros’ de fadiga; em 1970, já dependia de sessões de diálise renal.
Com o agravamento da enfermidade, foi trazido para tratamento na capital do estado. Depois de vários dias internado no Hospital Borges da Costa, na capital mineira, “Chico Nora“, como carinhosamente era chamado por seus amigos mais chegados, deu seu último suspiro às sete e meia da manhã do Domingo, 30 de agosto de 1970.
Mas, preciso registrar ainda: no dia anterior a esse último suspiro, houve uma inesquecível conversa de conteúdo espiritual em meio a todas as dificuldades enfrentadas pelo paciente sob dependência de suporte respiratório; tal conversa foi patrocinada pelo primo Divar Júnior, depois de um chamamento de minha mãe, que estava de companhia no hospital. Por ‘coincidência divina’, o primo conseguiu levar até meu avô, naquela tarde de sábado, o pastor e amigo dele, Paul Overholt, presidente da agremiação Mocidade Para Cristo-Brasil. No curso daquela abençoada conversa, os dois ouviram do meu avô respostas de rendição e reconciliação com Deus, de alguém que, havia muito, estava Dele distanciado! Bendita conversa! Aleluia!
“Celebrai com júbilo ao Senhor , todas as terras. Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico. Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio. Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome. Porque o Senhor é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade” (Salmos 100:1-5, ARA).
Achei fantástico, mas gostaria de que escrevesse mais, pois você tem muito conteudo sobre a familia e eu gostaria de saber.
Meu nobre primo Mauricio
Companheiro de saudosas jornadas nos tempos de mocidade!
Sim, eu acredito que possa prometer para breve alguns apêndices, estendendo um pouco mais alguns informes.
Mas, nessa promessa vão juntas algumas premissas (em ordem de menção, e não necessariamente de importância):
1) Governa-me a lembrança de que estamos em terreno aberto: a internet é world wide; não está sob meu controle o alcance… Por isto, a determinação de Filipenses 4.5 (“Seja a vossa moderação conhecida de todos…”) precisa ser baliza dos limites.
2) E, por que isto? Todos sabemos que todos somos cheios de defeitos, enquanto a nossa regeneração final não ocorre; todos temos “telhados de vidro” (o meu é da mais fina espessura que existe). Por isto, não pretendo me deter em aspectos negativos e coisas que devem ficar no passado ou, no máximo, ser compartilhados, se for oportuno, em rodas mais íntimas somente e não em público…
3) E, por que também isto? Porque tento me reger pelo princípio que está em Lamentações do profeta Jeremias, capítulo 3, verso 21: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” O que não constrói esperança, não é prioridade minha.
Nada obstante, está feita a promessa! E, prá isto, conto com a “ajuda de todos os universitários” ao aprendiz do primário aqui…
Muito boa contribuição à história de nossa família, Ulisses.
Não tive o privilégio de conhecer a tia Eunice, nem o seu esposo. Agradeço as oportunidades de conhecer a maioria dos filhos e netos do casal, primos que muito estimo e com os quais tenho privado de amizade e comunhão na fé no Senhor Jesus Cristo.
Dou graças a Deus pela vida de cada um.
Caro primo Uriel
E eu estou entre os que, além de ter o mesmo sentimento e gratidão que você tem, dão graças a Deus por sua vida, a instrumentação que Deus tem feito de você mesmo (do que tenho sido um dos maiores beneficiários), e por sua família!
Deus muito te abençoe e abençoe os seus, assim como a cada um nas 11 descendências que o ‘vovô’ Ernesto deixou! !
Para entendermos o nosso presente é importante conhecermos o passado, pois ele nos fundamentou. Sou muito grata a Deus por essa família e por ter o privilégio de conhecer um pouco de sua história.