Alguns séculos lá atrás, a família Horta e a família Barbosa vieram de Portugal para o Brasil. Nas antigas formas gráficas, o “Horta” também foi “Orta”; “d’Orta” significava simplesmente “da Horta” ou “de Horta”. Já o “Barbosa” era mais comumente grafado “Barboza”. Foi na geração do avô de meu bisavô José Pires Horta Barbosa que ocorreu a união entre um Barbosa e uma Horta, transmitindo assim o legado dos “Horta Barbosa”, sobrenome que minha mãe carrega.
O sobrenome Horta provém de família de judeus sefarditas que, em Portugal, não chegaram a se converter de todo ao cristianismo católico; por isto, chamados também de “cripto-judeus”, acabaram por ser perseguidos pela Inquisição; daí a descendência que veio para o Brasil. O sobrenome Barbosa também provém do judaísmo sefardita; contudo, vários deles se tornaram nobres no reino de Portugal e renunciaram ao judaísmo. Os Barbosa que vieram para o Brasil já trouxeram o cristianismo católico arraigado, sem os riscos de sofrer pela raiz judaica.
José Pires Horta Barbosa nasceu em 1877, como dito em capítulo anterior, na cidade de Leopoldina, na Zona da Mata Mineira. Era filho de Antonio Agostinho Horta Barbosa (1843-1910) e Francisca Pires Horta Barbosa (1858-1884). Francisca era de Leopoldina, e seu nome de solteira era Francisca Basílio Pires; faleceu com apenas 26 anos de idade. Depois de José Pires, o casal teve ainda Luiz Pires Horta Barbosa (1881-1974) e Sebastião Pires Horta Barbosa (1884-?), ambos nascidos também em Leopoldina. Quando nasceu o último filho, complicações de saúde levaram ao óbito de Francisca. Em 1885, casou-se Antonio Agostinho em segundas núpcias com Anna Querubina (Cherubina, na grafia antiga) de Vasconcelos Monteiro (1857-1933), que passou a assinar tão somente Anna Horta Barbosa.
Se do primeiro matrimônio houve descendência apenas de homens, em número de três, desse novo matrimônio foram somente mulheres, em número de oito. A dedicação à forma de fé católico-romana levou os pais a colocar o mesmo prenome em todas: Maria Hortência (1885-1972), Maria Antonieta (1889-1976), Maria da Glória (1893-1986), Maria Elisa (1895-1927), Maria Angélica (1896-1897), Maria Regina (1898-1944), Maria Amélia (1899-1980) e Maria Dagmar (1903-1993).
Antonio Agostinho Horta Barbosa nasceu em Matosinhos, MG, em 10 de outubro de 1843, ao tempo em que seu pai era deputado imperial pela província de Minas Gerais. Era o terceiro filho, dentre 15 filhos que seus pais tiveram. Em 1861, ingressou na Escola Central, sucessora da Academia Real Militar do Rio de Janeiro, que foi o embrião da Escola Polytechnica, hoje integrada à Universidade Federal; ali, cumpriu o curso de engenharia civil. Enquanto isso, sua mãe, já viúva desde 1860, vivia com os demais filhos solteiros em propriedade rural nas cercanias de Juiz de Fora.
Não posso ainda afirmar com certeza, mas é bastante provável que Antonio Agostinho tenha sido obrigado a postergar a conclusão do curso para juntar-se às forças militares brasileiras que tomaram parte na Guerra do Paraguai (1864-1870); ainda estou em busca do dado preciso, junto ao Arquivo Nacional, do ano de conclusão do seu curso. Certo é que, concluído o curso, serviu à Diretoria de Obras Públicas do governo imperial de Dom Pedro II. Logo abriu a firma de engenharia Horta Barbosa e Cia, com sede no Rio de Janeiro; posteriormente, vindo a fixar-se em Leopoldina, abriu uma filial em Cataguases, que era distrito de Leopoldina. Nesse tempo, era também capitão da Guarda Nacional.
Após a proclamação da república (1889), Antonio Agostinho foi contratado pelo estado de Minas Gerais como engenheiro. Nesta função, exerceu atividades de projeto e de supervisão de obras em vários lugares do estado; entre elas, demarcações de terras devolutas na região de Manhuaçu, o que ocasionou a ida do filho primogênito para aquele lugar. No ano de 1900, quando ainda residia em Leopoldina, foi nomeado pelo governo estadual para assumir a chefia do 1º Distrito de Terras e Colonização, cargo que não chegou a assumir.
Naquele mesmo ano, na região de Águas Virtuosas, em Minas Gerais, surgia um movimento cidadão: Águas Virtuosas era distrito da cidade de Campanha, dotado de fontes de águas consideradas rejuvenescedoras. O movimento era pela criação de uma cidade com inspiração em moldes europeus. O líder do movimento era Américo Werneck, que havia sido o segundo prefeito da recém criada capital mineira, Belo Horizonte. A nova cidade foi criada e emancipada em 1901, vindo a adotar o nome de Lambari, a famosa estância no sul de Minas.
Antonio Agostinho havia sido convidado por Américo Werneck para compor a equipe de urbanização e emancipação do novo município. Por isto, por duas vezes pediu licença de sua designação no estado, até que resignou sua posição e juntou-se à equipe de Américo Werneck.
Sua mudança de Leopoldina para Lambari (então, ainda Águas Virtuosas) se deu no mesmo ano de criação do novo município: 1901. Naquele ano, o filho mais velho – José Pires – estava perto de concluir o curso de Agrimensura no Rio de Janeiro; uma das filhas – Maria Angélica – já havia falecido, com apenas um ano de idade. Os demais filhos e a esposa, Anninha, acompanharam-no na mudança.
Em Lambari, tornou-se engenheiro do município, bem como secretário-executivo da nova Câmara de Vereadores. Naquela cidade, sofreu o baque da notícia da morte do primogênito, que ocorrera em Manhuaçu, no início de 1905. Mas, também naquela cidade ainda viveu o bastante para testemunhar o casamento de três filhos: Luiz Pires, que casou-se com Maria Antonieta Goulart em 1007, Sebastião Pires, que casou-se com Abigail Alves Nogueira em 1909 e Maria Hortência, que casou-se com Armando Masson Jacques em 1910.
Em 26 de novembro de 1910, aos 67 anos de idade, expirou Antonio Agostinho, deixando viúva a esposa Anna, e seis filhas solteiras. Luiz Pires, que se casou em 1907, mudou-se para Campanha, depois para São Lourenço, depois para o Rio de Janeiro e, por fim, para Caxias do Sul (RS), onde faleceu em 1974. Sebastião Pires veio para a região metropolitana de Belo Horizonte, onde prestou serviços em atividades ligadas ao ensino agrícola da Universidade Federal. A filha Glória se casou com o irmão de seu cunhado Armando, cujo nome era Alberto Masson Jacques; Armando e Alberto seguiram carreira militar no oficialato do exército brasileiro. A filha Maria Antonieta não se casou e dedicou-se a uma ordem religiosa católica; as filhas Maria Elisa e Maria Regina seguiram carreira no magistério, mas faleceram ambas ainda solteiras; a filha Amélia casou-se com o médico Lauro Torres de Rezende, e a caçula – Dagmar – casou-se com o engenheiro Halley Bandeira da Silveira.
Todas as filhas foram morar na cidade do Rio de Janeiro, sendo que Amélia e Dagmar foram para o estado de São Paulo ao se casarem. Para o Rio de Janeiro seguiu também Anninha, a viúva, onde veio a falecer aos 75 anos de idade, em 15 de julho de 1933.
Sobre Antonio Agostinho Horta Barbosa, o semanário “O Lambari” registrou o seguinte necrológio, transcrito pelo historiador da cidade, Luis Carlos Santos: “Foi um trabalhador sem tréguas, puro, limpo; deixa para sua família um legado de honradez, de probidade impoluta. Um homem digno de ser venerado, uma vida digna de ser imitada”.[1]
Tudo coincidências de histórias? Absolutamente! Deus escreve a história a Seu modo!
“Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos’, declara o Senhor” (Isaias 55.8, NVI).
Isaías 55:8
[1] Luiz Carlos Ribeiro Santos, Lambari. Lambari, 2012: 245.