O sobrenome “Barbosa” também é incluso na obra de Lars Menk como de origem judaico-sefardita, predominante em Portugal[1]. No entanto, pesquisas genealógicas que remontam ao baixo período medieval indicam procedência de personagens Barbosa associados à família real portucalense nos séculos XII e XIII[2].  Considerando os títulos de nobreza com que alguns dos membros dessa família foram alvos em Portugal, é de se crer que, ao contrário de judeus perseguidos pela Inquisição, estes de fato se converteram em cristãos-novos e ficaram dela livres. Mas, existe também a real possibilidade de o sobrenome Barbosa ter sido adotado por determinadas famílias para trazer sobre si a honra da corte[3]; no caso de judeus, a partir das ameaças da Inquisição, a adoção de sobrenomes nobiliárquicos, como o Barbosa, certamente lhes serviu de manto de proteção. Assim sendo, continua um tanto difícil apontar com exatidão se o Barbosa desta família também teria incluído antepassados judeus sefarditas; é grande a probabilidade, mas não é matéria isenta de discussão.

Já para o sobrenome Horta, tem-se a certeza da origem judaico-sefardita; incluiu membros que se converteram ao cristianismo romanista, mas também alguns que não, tendo estes que fugir de Portugal. Já está devidamente comprovada e certificada, pela Comunidade Israelita de Lisboa, a ascendência sefardita da ancestral que será retratada neste apêndice. Dito isto, resta dizer, nessas considerações vestibulares, que a ‘coincidência’ da união de um Barbosa com uma Horta escreve parte da história ancestral de minha mãe.

Como já dito anteriormente, o sobrenome composto “Horta Barbosa” se tornou conhecido na união ocorrida entre Luiz Antonio Barbosa [da Silva][4] e Antônia Luiza Rodrigues Horta. Luiz Antonio era mineiro, nascido na fazenda de seus pais em Matosinhos, então comarca de Sabará, em 20 de junho de 1815[5]; era o quinto filho do Coronel Francisco de Paula Barbosa da Silva (1789-1832) e de Isabel Maria d’Ávila Lobo Leite  Pereira (1783-?); Francisco era fidalgo da corte imperial brasileira, e era filho do Coronel Antonio Barbosa da Silva (1750-1817), natural de Santarém, Portugal, “Cavalleiro Professo da Ordem de Christo”, fidalgo da corte em Lisboa e de Josefa de Assis Brandão Lobo Leite; esse último casal se estabeleceu em Sabará, Minas Gerais, em épocas da corrida do ouro.

Luiz Antonio formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1837. A partir de então, voltou para sua terra onde exerceu a advocacia; posteriormente foi designado Juiz de Direito das Comarcas do Rio das Velhas (Sabará), do Rio das Mortes (S. João del Rey), do Serro, de Diamantina, do Rio Jequitinhonha e finalmente da capital Ouro Preto. Na vida pública provincial e imperial, teve destacados papéis: deputado provincial de Minas Gerais em várias legislaturas e deputado geral desde 1844 até ser escolhido senador do Império, em 1858. Em 1849, foi Chefe de Polícia e vice-presidente de Minas; assumiu a presidência de Minas Geraes (grafia da época) em 1851, no que permaneceu até fim de abril de 1853, quando foi nomeado ministro da Justiça por Dom Pedro II; em 1854, deixou o ministério para assumir a presidência da Província do Rio de Janeiro, no que permaneceu até 1857. Foi eleito senador por Minas Gerais em 1859, quando recebeu a Comenda da Ordem de Christo; não chegou a tomar a posse, porque faleceu antes dela.

Luiz Antonio fez parte do Conselho Imperial e desenvolveu sólida amizade com Dom Pedro II, que o tinha em conta de grande confiança. Na gravura da coroação de Dom Pedro II, fato que se deu em 18 de julho de 1841, o Conselheiro Luiz Antônio Barboza é o que aparece praticamente de costas, bem próximo ao imperador. Enquanto presidente de Minas Gerais, foi quem determinou a criação e instalação Vila de Juiz de Fora (que se tornaria no município de mesmo nome), assim como a criação e a instalação da famosa hospedaria de imigrantes naquela mesma cidade, a qual ganhou nome de “Hospedaria Horta Barbosa”.

Casou-se em 1840 com Antônia Luísa de Oliveira Horta, que se tornou conhecida como “Dona Antônia do Cafezal”, da fazenda com esse nome nas cercanias de Juiz de Fora. O casal Horta Barbosa teve 15 filhos, dos quais três morreram na infância. Antônia do Cafezal ficou viúva em 1860, e faleceu em 08 de agosto de 1905. A união de um Barboza com uma Horta ocasionou o surgimento da tradicional descendência Horta Barbosa. Foi desse casal que nasceu em 1843 o terceiro filho – Antônio Agostinho Horta Barbosa – bisavô de minha mãe.

O historiador, jornalista e político José Pedro Xavier da Veiga (1846-1900), em sua compilação de 4 grandes volumes que cobriu o período da história mineira de 1664 a 1897, dedicou um notável artigo à biografia do Conselheiro Luiz Antônio Barbosa, que vai aqui recortado, composto e ‘colado’[6]:

O líder parlamentar da Revolução de Trinta e embaixador brasileiro, sobrinho do “patriarca da Independência” também com nome de José Bonifácio de Andrada e Silva, incluiu Luiz Antônio Barbosa entre os grandes vultos mineiros, dedicando à sua memória registro nos anais da Câmara dos Deputados da República. Esse registro está integralmente transcrito na edição de 24 de fevereiro do Jornal do Commércio de 1946, e sumarizado em obra da Câmara dos Deputados sob a edição do Perfil Parlamentar de José Bonifácio[7]; de um dos pronunciamentos de 1943 extraio apenas a seguinte citação:

A esposa do Conselheiro, Antonia Luisa de Oliveira Horta, passou a assinar Antônia Luisa Horta Barbosa a partir do casamento. Nasceu ela em Caeté em 02 de junho de 1815, do casal José Caetano Rodrigues Horta (1758-1822) e Bárbara Eufrosina de Oliveira Horta (1773-1852).  O pai de José Caetano tinha o mesmo nome – José Caetano Rodrigues Horta (1731-1795), razão pela qual alguns pesquisadores caem em confusão; este, por seu turno, proveio de Caetano Álvares Rodrigues (1690-1757) e sua prima Francisca Paes de Oliveira d’Horta (1696-?), ambos de linhagem judaic0-sefardita.

A família Horta brasileira provém da família Orta (ou d’Orta) de Portugal. Há muitos vultos dentre os Horta brasileiros, mas talvez seja o Marechal Horta Barbosa o mais conhecido de todos: Julio Caetano Horta Barbosa (1881-1965) era oficial engenheiro do exército brasileiro, o qual teve relevante papel nas discussões e planos que levaram à criação do Conselho Nacional do Petróleo, em 1938, tendo sido seu primeiro presidente; e também, na criação da Petrobrás, em 1953. Passou do generalato ao marechalato em 1958. Em homenagem a ele, um dos primeiros navios petroleiros do Brasil foi batizado com o nome “Marechal Horta Barbosa”. Júlio Caetano era neto do Conselheiro Luiz Antonio e de Antônia Luisa Horta Barbosa, porquanto filho de Bárbara Bueno Horta Barbosa e de seu primo José Caetano Horta Barbosa, que era filho do Conselheiro.

Dona Antonia do Cafezal, como era conhecida a viúva do Conselheiro Luiz Antônio, cuidou com esmero dos 12 filhos remanescentes de sua prole. Sua viuvez se deu quando ela tinha ainda 46 anos de idade; a partir de então, criou os filhos na Fazenda do Cafezal, nas proximidades de Juiz de Fora.

Antônia Luisa foi amiga e confidente da Imperatriz Teresa Cristina de Bourbon, esposa de Dom Pedro II, a quem deve significativa ajuda que recebeu quando do falecimento de seu esposo, o  Conselheiro Luiz Antônio Barbosa. Veio a falecer em 08 de Agosto de 1905, quase um ano depois do neto José Pires Horta Barbosa, avô de minha mãe.  Ao término deste apêndice, eis uma tabulação da ascendência de Antônia Luiza, que retrocede até o casal sefardita Vicente Anes Bicudo e Mécia Nunes, de Açores, Portugal.

NOTAS:

[1] Lars Menk, A Dictionary Of German-Jewish Surnames. Avoteynu, Bergenfield, NJ (USA): 2005 (796 páginas).

[2] José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, Linhagens Medievais Portuguesas – Genealogias e Estratégias (1279-1325), Vol. I. Porto: Dissertação de Doutoramento em História Medieval – Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1997: 155.

[3] Ibid, p. 511.

[4] Uma vez que seu pai tinha o sobrenome “Barboza da Silva” (com o “z” típico da grafia da época), alguns historiadores acrescentam “Silva” a Luiz Antonio Barbosa. É importante lembrar que naqueles tempos imperiais, quando o catolicismo era religião oficial, os registros de nascimento ocorriam, via de regra, na paróquia; além disto, tais registros não costumavam acrescentar sobrenomes aos batizandos, limitando-se a faze-lo quanto aos pais e testemunhas. Por conseguinte, a adição de “Silva” ao nome deste ancestral é matéria um tanto especulativa.  Nos registros oficiais posteriores, tais como nos anais do Senado Federal, Luiz Antonio era tratado apenas com o sobrenome Barboza (sem Silva); ademais, nos registros disponíveis de seus descendentes, igualmente era escrito apenas “Luiz Antonio Barboza”, opção que aqui adoto, deixando o “Silva” apenas entre colchetes.

[5] Há controvérsias quanto à data de nascimento: alguns sites, com nenhuma acuidade histórica, chegam a apontar ano de 1805, o que é impossível. A genealogista Vânia Lúcia de Oliveira, descendente de uma das irmãs de Luiz Antonio, em apurada investigação, encontrou um registro paroquial de batismo para a criança “Luis”, filho de Francisco de Paula Barbosa da Silva, Isabel Maria de Ávila Lobo Leite, na cidade de Congonhas do Campo, MG, na data de 20 de junho de 1814; mas, isto não garante que seja o mesmo Luiz Antonio que sobreviveu e chegou à idade madura. Já o historiador e genealogista Arthur Vieira de Rezende e Silva (1868-1945), em sua obra Genealogia Mineira (1937), anota a data de 15 de junho de 1815. Minha opção é uma terceira – a que é legada por José Bonifácio de Andrada e Silva (sobrinho), na publicação do Jornal do Commercio de 24 de fevereiro de 1946, em página inteira dedicada ao nosso personagem; esta é, também, a data da opção do abalizado historiador, genealogista e parente Rubens d’Almada Horta Porto, na obra “Família Horta”.

[6] José Pedro Xavier da Veiga, Ephemérides Mineiras, Vol I. Ouro Preto: Imprensa Official do Estado de Minas, 1897: 325-326.

[7] Ligia Maria Leite Pereira e Maria Auxiliadora de Faria, Perfil Parlamentar 75 – José Bonifácio de Andrada e Silva. Brasília: Edições Câmara, 2020, pp. 273-275. 

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