Ernesto José Heckert era o outro avô da minha mãe; este era o pai da mãe dela – Eunice – que era sua primogênita. Nasceu ele em São José do Ribeirão, RJ, em 21 de agosto de 1880. São José do Ribeirão era então distrito da primeira cidade-colônia de alemães e suíços no Brasil, Nova Friburgo; em 1893, passou a ser distrito do recém-criado município de Bom Jardim. Era filho de Felippe Eduard Heckert e Elizabeth Stutz Heckert. Felippe Eduard, por seu turno, era filho do alemão proveniente da Westfália, Peter Joseph Heckert, que faleceu em São José do Ribeirão em 1902; assim, era neto do pioneiro Jakob Heckert, que deixou o porto de Hamburgo, na Alemanha, em 1936, vindo para o Brasil. A esposa de Felippe era Maria Elisabeth Schott[1]. Também em São José do Ribeirão se casou Ernesto, em 22 de abril de 1905, tendo sido celebrante religioso o conhecidíssimo pastor e missionário norte-americano John Merrill Kyle (1856-1918).

      Este fato – o casamento de um Heckert com uma Werner – em si pode não ter sido uma “coincidência” tão grande; afinal, ambos residiam no mesmo distrito. Contudo, se recordarmos como se deu a distribuição de terras para os colonos das primeiras levas migratórias, vindas da Alemanha e da Suíça, a figura muda de cores. Os “Heckert” não tomaram parte nas primeiras expedições que chegaram, a partir de 1824; os “Werner”, e os Gripp, sim. E vários destes tiveram assentamento não só na região de Nova Friburgo, mas também nas regiões de Macaé e Cantagalo, além de alguns que se espalharam para outras regiões do país. Há uma certa “coincidência divina” no encontro de um filho da família Heckert com uma filha da família Werner, naquele tempo e naquele lugar.

      Naquela colônia germânica no Brasil o casal Ernesto e Alice teve seus seis primeiros filhos: Eunice (1906), Moysés (1907), Hermes (1909), Lídia (1911), Noemi (1912) e Elisa (1913, viveu apenas 7 anos). Em fins de 1914, o casal se mudou para Alto Jequitibá, onde se agregou à Igreja Presbiteriana local, então pastoreada pelo Rev. Anníbal José dos Santos Nora. Ali, nasceram ao casal mais três filhos: Dejanira (que morreu ainda na tenra idade), Idenir (1917) e Oséas (1919). “Vovô Ernesto” tornou-se proprietário de um sítio no entorno de Alto Jequitibá; dali tirava ele o sustento para sua família. Que boas lembranças daquele moinho d’água, daquele tacho de cobre, daquele ribeirinho que corria rumo ao Rio Jequitibá, sendo este afluente do Rio Manhuaçu.

      Alice Fabiana Werner nasceu em São José do Ribeirão em 20 de janeiro de 1887, filha de Antonio Basílio Werner e Magdalena Dias Werner.  No casamento, em 1905, passou a assinar Alice Werner Heckert. Infelizmente, no momento em que escrevo estas linhas, pouca coisa posso registrar acerca da avó materna de minha mãe: ela se foi ainda bem jovem:  em 27 de outubro de 1922, severas complicações na última gravidez (que não se consumou) ceifaram a vida de Alice, estando ela apenas com 35 anos de idade.

      “Vovô” Ernesto se casou pela segunda vez, em 12 de fevereiro de 1925, desta feita com Izabel [de Freitas] Gripp (30/11/1897 – 23/08/1989), que se tornou Izabel Gripp Heckert. No ano desse segundo matrimônio, o filho mais novo do primeiro casamento, Oseás, contava 5 anos de idade, enquanto que a filha mais velha, Eunice, contava 18 anos de idade. Por ter assumido a família sem que o primeiro neto ainda tivesse nascido (o que ocorreria somente quase dois anos depois), e por sempre ter demonstrado ternura com todos, a ‘vó Izabel acabou sendo avó de todos os netos,  indistintamente.  Desse segundo matrimônio vieram cinco filhos: Enir (1925), Urbano (que faleceu ainda muito novo, em 1927), Wilton (1928), Daleth (1929) e Élito (1934). Além do cuidado com a família, ‘vó Izabel sempre foi muito atuante na sociedade de senhoras da igreja, em Alto Jequitibá.

      De todos os filhos do “vovô” Ernesto, somente dois ainda estão vivos no momento em que escrevo estas linhas: tia Enir (em Alto Jequitibá) e tio Élito (em Brasília, junto ao filho Sidney).  Uma curiosidade se dá com a grande família de dois matrimônios: o filho mais novo do primeiro, o tio Oséas (já não mais entre nós), e o filho mais novo do segundo, o tio Élito, ambos abraçaram o ministério pastoral presbiteriano.

      Então, segue agora a descendência primária de Ernesto José Heckert. Do primeiro matrimônio, com Alice Werner, foram, pela ordem cronológica: Eunice (27/07/1906 – 18/06/1948) casou-se com Francisco Nora Horta Barbosa (10/10/1903 – 30/08/1970), com quem teve Divar, Cecy, Ione, Dalva, Elisa e Ligia; Moysés (12/12/1907 – 11/05/1999) casou-se com Eunice Torres Heckert (11/02/1910 – 11/05/1999), com quem teve Yval, Glacy, Cleber e Eunice Silésia; Hermes (26/07/1909 – 05/12/2008) casou-se com Iracy Duarte Neves Heckert (04/11/1910 – 06/07/2008), com quem teve Ênio, Lélia, Leila, Vera (faleceu nova, ainda solteira), Dilma e Walber; Lídia (22/04/1911 – 26/06/2002), casou-se com José Cordeiro (16/12/1907 – 18/01/1983), com quem teve Válber, Lirdes e Alice Eugênia; Noemi (11/08/1912 – 04/09/2011) casou-se com Jair Duarte Neves (06/01/1913 – 12/01/1981), com quem teve Wolney, Eliete, Wesley, Alice, Ernesto, Ana Elisa, Jair, Paulo, Célia, Aroldo, Noir; Elisa (04/05/2013 – 21/05/1920); Dejanira (1915, viveu poucas semanas); Idenir (04/04/1917 – 09/12/2007) casou-se com Joaquim de Mattos Filho (30/05/1913 – 29/12/2010), com quem teve Maria Alice, Else Guilhermina e Vera Lúcia; e Oséas (25/04/1919 – 15/08/1994) casou-se com  Ester Emerich Sathler Heckert  (20/02/1914 – 14/07/2001), com quem teve Guilherme Ernesto (1944, viveu apenas 9 meses), Uriel, Bailinda Alice e Oséas Elias.  Do segundo matrimônio, com Izabel Gripp, vieram, também em ordem cronológica: Enir (16/12/1925 – …), casou-se com Samuel Gripp (20/01/1927 – 18/01/2011), com quem teve Adriano e Maria Izabel; Urbano (1927-1927), Wilton (16/06/1928 – 19/09/2017), casou-se com Iza Eller Dutra (22/06/1933 – 28/06/2004), com quem teve Vilza e Eunice; Daleth (30/10/1929 – 30/09/2021) casou-se com Inéas César (06/01/1925 – 14/10/1974), com quem teve Ilma (faleceu ainda solteira, em acidente automobilístico, em viagem com o pai, a irmã e uma prima), Ilza e Dalton; e Élito (29/12/1934 – …), casou-se com Letice Maria César (19/05/1943 – …), com quem teve Sidney e Giovani; em segundas núpcias, casou-se com Matilde Sigesmundo Stoffel (17/07/1933 – 17/08/2021).

      O “vovô” Ernesto foi muito atuante nos serviços que a igreja prestava a Deus no seu tempo de vida. Sua primeira eleição como presbítero se deu ainda em São José do Ribeirão, no ano de 1905; ao todo, foram 66 anos de presbiterato, sendo 9 anos no estado do Rio de Janeiro e os demais em Alto Jequitibá, uma vez que foi eleito presbítero na igreja desta cidade logo que chegou. No ano de 1959, recebeu o título de “presbítero emérito” da Igreja Presbiteriana. Era um presbítero pregador e evangelista, em jornadas a cavalo ou a pé. Além de ter sido presbítero da igreja por décadas, foi também um entusiasta e até colaborador da transformação da escola primária em ginásio, na cidade; quando se criou a Banda União Evangélica na cidade, fez parte da diretoria; quando havia algum aluno para o colégio que dependia do internato, mas não tinha condições de pagar pelo internato, ele levava e hospedava esse aluno em sua própria casa (e, não foram poucos). Foi ele quem, tendo conhecido o pastor Cícero Siqueira numa reunião no Rio de Janeiro, efetuou os arranjos para sua vinda de Pernambuco. Teve dois filhos pastores, mas sempre apoiou em tudo os pastores da sua igreja, a começar do Rev. Anníbal Nora, cujo sobrinho desposou sua filha primogênita.

      De anotações do tio Élito transcrevo: “Revendo suas anotações, encontramos vários esboços de mensagens; numa delas, com base em Marcos 3.20-30, encontrei o que escreveu: ‘…é interessante considerar a perseverança firme e tranquila de Nosso Senhor Jesus em face de todas as contrariedades; ele tinha voltada a sua face para a cruz e a coroa. Todos os verdadeiros servos de Cristo devem trabalhar do mesmo modo, sem dar lugar a que contrariedade alguma lhes desvie do caminho estreito ou os obrigue a parar para olhar para trás”. No dia 21 de julho de 1969, expirou o guerreiro, depois de um duro enfrentamento de enfermidade! Suas últimas palavras foram: “Estou contente porque estou com Cristo; aguardo a sua chamada!” Dele, o testemunho é de um homem fiel, comprometido com o evangelho de Jesus Cristo e com ele próprio, atuante, de um legado digno.

[1] Sobre este sobrenome, interessante ver https://carolynschott.com/germany/the-history-of-the-schott-name.

“Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam” (Apocalipse 14.13, ARC)

 

     

11 respostas

  1. Quando vovô Francisco faleceu eu estava com sete anos. Mamãe me enviou para casa de uma irmã da igreja. Na primeira noite, eu acordava e quando esticava as pernas tinha a sensação de tocar alguém com os pés, então me recolhia de medo debaixo da coberta. Não tive coragem para levantar e ver quem era.
    Onde quero chegar com isto. Ter escrita a história da família nos traz lembranças curiosas!
    Excelente exposição caro primo Ulisses. Muito obrigado pelo seu cuidado em registrar os fatos e a história da nossa família. De fato não existe coincidências para a ação providencial e soberana de nosso Deus. Do improvável muitas surpresas!

  2. Excelente trabalho, Ulisses… aqui tem curiosidades que eu não conhecia. Estarei usando algumas fotos para enriquecer o livro do papai, ok?

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